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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

AÇÃO IMPENSADA-VIDA QUE SE TRANSFORMA




Era apenas uma criança, alegre, bastava que uma música tocasse para se por a dançar, quando havia visitas, não se inibia, a alegria ela espalhava.

Os pais pensavam que no futuro procurariam uma escola de ballet, no momento era tão pequena, talvez em dois ou três anos.

Bom isso tudo ela era até os cinco anos, mas algo aconteceu que fez com que a pequena mudasse toda a sua personalidade, um fato até comum.

Nos últimos tempos, no meio da noite, acordava assustada, aos prantos chamando pela mãe, agarrava-se a ela e na cama do casal ia dormir. 

Antigamente tudo era considerado manha e ninguém questionou a pequena o porquê de tanto choro.

Bem, comentando com amigos, os pais só tiveram uma resposta: - Manha se trata com umas boas palmadas, se a situação não mais acontecesse estava confirmado o diagnóstico.

Os pais relutavam em tomar a medida, quem sabe não passasse sozinho, afinal ela nunca dera grandes problemas, haveria de passar.

Uma noite o pai chegara do trabalho bastante nervoso, o dia no trabalho havia sido péssimo, a cabeça latejava, a pequena mais uma vez acordou a mãe aos prantos e mais uma vez foi levada para a cama do casal, o pai que dormia muito mal, pediu à esposa que trocasse de cama com a filha, assim repousaria melhor.

Só que a menina agarrada com a mãe, quando percebeu a sua ausência, começou a chorar e pedir pela mãe. Era o que faltava para o copo transbordar, o pai não pensou, agiu, pegou bruscamente a menina, jogou-a em sua cama e sob os protestos da mãe, aplicou-lhe um corretivo bem pouco parecido com palmadas no bumbum, estava descontrolado, foi uma surra e tanto, abalado emocionalmente com seus problemas anteriores, descarregou na pobre toda a sua ira.

Bem, a pequena cresceu e passou muitas noites de pavor, o que a apavorava era visões de gente que ela nunca tinha visto, sem contar os sonhos onde aquelas pessoas queriam pegá-la, nunca mais chorou ou pediu socorro, nunca falou o que a amedrontava, mas também não se lembrava daquela noite, a lembrança da surra havia sido varrida de sua memória, não pedia ajuda por que dentro dela algo dizia que era melhor ficar quieta, nunca ouviu nenhuma referência dos pais a tão malfadada noite.

A sua personalidade mudara, a menina alegre morrera, cresceu quieta, pelos cantos da casa, não procurava a companhia de ninguém nem dos irmãos, não tinha amigas, mas era excelente aluna, nunca mais a viram dançar e aos poucos se acostumaram com a menina triste, obediente sempre foi, mas tornou-se explosiva, não conseguia expor seus pensamentos, suas ideias sem se alterar, e enquanto todos abaixavam a cabeça quando o pai dava uma ordem, ela para o desespero da mãe o enfrentava, bastava achar que a ordem era injusta, sem procedência.

Ela e o pai tornaram-se os melhores amigos, como jamais visto, ele adivinhava os seus pensamentos e ela os dele, o que realmente atrapalhava era as suas explosões, na maioria das vezes muito justas, mas que a faziam perder a razão, magoava as pessoas e não conseguia se expor de forma a protestar ajudando e não ferindo.

Por isto, um dia desabafou com sua madrinha, e esta sem rodeios lhe disse que nem sempre fora assim, contou-lhe sobre o seu jeito alegre de ser e explicou-lhe a terrível surra que levara, as consequências de tal surra logo foram vistas, no dia seguinte amanhecera com quarenta graus de febre, seus pais correram para o médico, que sem dúvida nenhuma diagnosticou o trauma sofrido, alguns dias demorou a febre ceder, mas a espontaneidade, a alegria nunca mais voltou.

Seus pais cogitaram em levá-la a um psiquiatra, mas logo rejeitaram a ideia, na época este era médico de loucos, então esperaram que o tempo curasse.

A menina, agora já uma moça, espantou-se pelo fato de não se lembrar de nada daquela noite, o que se lembrava era apenas das visões que tanto a amedrontaram, por tanto tempo.

Por amar demais os seus pais nunca tocou no assunto com eles, entendera que fora um momento de nervoso.

Tocou sua vida, quando nos conhecemos já tinha filhos adultos, sempre enfrentou sérios problemas em se relacionar em qualquer ambiente, expor suas ideias no trabalho jamais, a duras penas e muita fé aprendeu a controlar as explosões, não conseguiu ter autoestima e nem confiança em si mesma, sempre enfrentou sérios problemas conjugais e sua vida profissional segundo ela tornou-se medíocre.

Após o desabafo me disse: “Não sei quem realmente sou, sempre tenho a impressão que essa não sou eu e não sei se realmente esta é a vida que eu deveria ter levado”.

Com um ato impensado, o pai havia sem querer transformado toda a sua vida.

Luconi
04-10-2008

17 comentários:

  1. Lindamente contada essa triste história que tantas vezes deve ter se repetido em vários lugares... Impensadamente, tantas consequências podem advir... Beijos,chica

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  2. Quantas vidas foram ceifadas dessa maneira, por causa da ignorância do pais...
    Felizmente as coisas estão um pouco mudadas...Mas ainda é preciso muita lapidação do ser humano para as coisas se transformem...

    Um beijos

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  3. Oi Luconi! Você expressou maravilhosamente bem a falta que a sabedoria faz na educação dos filhos. Eu peço a Deus muita sabedoria para educar a Laura. Beijos!

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  4. Olá Luconi,

    Que triste fato! Ações impensadas podem gerar até tragédias. Recordo-me de um conto que li há muito tempo sobre um pai que havia comprado um carro novo e o filhinho o arranhou. Irado, o pai o agarrou pelo braço e não me lembro como, o menino terminou por ter o braço amputado e teria perguntado ao pai se o braço iria nascer de novo. Não suportando a dor e o remorso, o pai suicidou-se. Pode ser que seja apenas uma estória, mas ilustra bem o que pode resultar de um ato impensado. A menina de seu caso transformou-se e teve sua vida prejudicada pela falta de compreensão e assistência dos pais no momento que ela mais precisava. Uma lição para os pais em geral, que necessitam de muito amor, luz e sabedoria para criar e educar seus filhos.

    Beijo.

    PS: Você estava falando comigo pensando em alguma Sonia (rsrsrs). Falamos com tanta gente que acabamos trocando os nomes, né? Bj.

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  5. Boa noite, querida amiga Luconi.

    Os pais parecem se esquecer que também já foram crianças.

    Muitas graças.

    Beijos.

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  6. Ôi Luconi! Como está? Obrigada pela visita gentil e carinhosa! Realmente uma ação pode mudar uma vida e o pai, com certeza, agiu sem pensar.... Mas não creio ter sido ele totalmente culpado, pois a garota já vinha apresentando sinais de uma comportamento com problemas bem antes da mal fadada surra.... Parabéns pelo texto, pode ajudar em muitas reflexões.... Hoje já tem post novo! Quinta e sexta-feiras iluminadas!
    Um abençoado e feliz final de semana!
    Abraço fraterno e carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/

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  7. Querida Márcia.
    Venho do G+ para espreitar o seu cantinho, que me encantou. Virei mais vezes, aliás já me registei. Se puder visite também o meu espaço (http://bercodomundo.blogspot.pt/).
    Um doce fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  8. Incrivel o texto, muito real, infelizmente, esse despreparo que acarreta consequencias bem tristes e acredito que tudo é na melhor intenção, mas não sabem como fazer, Deus abençoe, bjos.

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  9. Oi, Luconi. Eu fico imaginando a quantidade de traumas pequenos, médios e grandes que carregamos por causa desses atos impulsivos de que somos vítimas quando crianças por parte dos adultos (não só os pais). Educar tem que ser , acima de tudo, um ato de amor. Abraços. Paz e bem.

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  10. Bom dia, Luconi! Acho que esta menina sofria algum tipo de obsessão. A parte da infância desta menina foi exatamente como a minha (exceto pela surra do pai). Também tinha pesadelos e acordava assustada no meio da
    noite, indo dormir com meus pais. Sentia dores fortíssimas no ombro esquerdo, e ninguém conseguia diagnosticar. Por mais incrível que pareça, um dia minha irmã me levou em um centro de umbanda (eu tinha uns oito anos) e um preto velho chamado Vovô Guiné, sem que ninguém perguntasse, passou por mim, e me olhando (fiquei apavorada de medo) falou que eu tinha um encosto e me rezou. Nunca senti tanto medo na vida... rsrsrs mas o fato, é que a dor sumiu e eu passei a dormir bem.

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  11. Antes não se investigava qualquer situação estranha que o filho apresentava, ou surrava ou dizia que era manha e a coisa passava batida, prejudicando por toda a vida a vida do ser. Hoje, felizmente, a maioria dos pais está mais atenta nos relacionamentos com os filhos. Percebe melhor determinada anomalia.
    A palavra de Deus, ensina-nos que jamais devemos falar palavras negativas (palavrões,vc não serve para nada, sua vida vai ser ruim, etc)porque o inimigo usa isto para fazer valer na vida do xingado.
    O texto se ficção ou não, mostrou-nos um quadro que não devemos seguir, mas procurar entender a situação e buscar uma solução. No meu entender, em primeiro lugar na palavra de Deus e em segundo lugar, nos recursos científicos que o Senhor Deus proporciona aos homens.
    Gostei muito do texto, minha querida amiga!
    Que o Senhor Deus sempre lhe abençoe em seu caminhar!
    Abração.

    Tenho visitado pouco, em virtude de muito trabalho. Sempre que puder, estarei por aqui. Amo vir aqui.

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  12. Minha querida Márcia,

    Uma ação impensada pode arruinar uma personalidade, anulando tudo o que há de melhor em uma criança, com sérias consequências em sua vida adulta.Pobre menina...perdeu a sua alegria de viver, a sua espontaneidade, por um momento de ausência de reflexão do pai.

    Bjsssss,minha amiga,
    Leninha

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  13. Parabéns cara amiga poeta pelo excelente texto, e digo que,
    Palavras acompanhadas de atitudes agressivas, podem sim mudar pro completo a vida de uma criança e muita das vezes ate mesmo a de um adulto.

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  14. Luconi,que história mais triste mas como acontece!Eu mesma já tive casos de alunos espancados!Muda toda personalidade da criança!Lindo e triste conto!bjs e meu carinho,

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  15. Uma só atitude de incompreensão mudando para sempre a personalidade de uma criança.
    Luconi,
    uma linda história,muitas vezes real.
    Um misto de beleza , emoção e tristeza.

    Uma semana iluminada para você.
    Bjs.

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  16. Despertando a Impaciência


    Um senhor, que não havia ajustado seu despertador, colocou-o sobre uma cadeira, para que pudesse despertá-lo no final da madrugada. Ele acabou perdendo a hora tendo que sair às pressas. Deixou o pobre e desolado despertador sobre aquela superfície insegura. Com o passar do tempo, este foi perdendo a paciência, devido ao “chá de cadeira” que estava tomando.
    Por incrível que pareça o seu temperamento explosivo era motivo de chacotas: Dependendo dos seus ponteiros demonstrava ora um sorriso aberto: (13h: 45 min), ora um semblante fechado: (17h: 40 min). A cadeira, sempre tímida e de “pernas abertas” começou a matutar quanto aquele folgado ficaria ela. Criou coragem e perguntou sarcasticamente:
    – Escute aqui: será que “você não se enxerga”, não hein?
    Com muita paciência ele respondeu:
    – Fique tranqüila; daqui a pouco vou colocar a boca no trombone... Vou incomodar todo o mundo! Tenha calma; em breve sairei.
    –Acho bom mesmo! Sou uma cadeira de respeito. Disse ela.
    Quando os ponteiros marcaram 4 horas, o relógio começou a falar mal de deus e todo o mundo. Nisso entra no quarto o filhinho de quatro anos. Ele, inocentemente segura o despertador pela alça e o arremete contra o chão, despedaçando-o completamente.
    A cadeira não se conteve e começou a rir às pregas despregadas. O menino – muito curioso – acabou subindo sobre ela. O pirralho não parava quieto. Era um tal de sobe e desce que não acabava mais.
    Então ela tomou uma decisão drástica: Quando o fedelho subiu novamente, ela gingou de tal maneira que ambos acabaram caindo. O menino se pôs a chorar como se tivesse visto um fantasma.
    Sua mãe entrou no quarto e viu a desordem montada. Não podia acreditar que seu filho tinha acabado de destruir o relógio. Como não estava a costumada a bater nele, ela descontou sua fúria sobre a pobre cadeira. A dona da casa segurou-a pelo encosto, e jogou-a contra a parede, transformando-a em um monte de madeira inútil. A dona retirou-se dali levando o menino consigo. No silêncio daquele quarto dois objetos silenciosamente moribundos se acusam.


    Do livro (O Anjo e a Tempestade) de Agamenon Troyan
    machadocultural@gmail.com

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