Trazer todos ajudaram, ficar com ela ninguém queria, os filhos
muito menos, não confiavam mais nela, um dia se fora, sumira com um rapaz
dezesseis anos mais jovem, o marido que apesar de sempre ter os seus galhos
fora de casa, não foi desonesto deu-lhe metade de tudo, estavam bem de vida,
ela tudo vendeu e em poucos anos o dinheiro sumira, nunca explicou o que
aconteceu, veio com a deslavada mentira que o BRADESCO havia sumido com o
dinheiro de sua conta. Como viveu dezessete anos com o tal homem e ele nunca
trabalhou, somente ela e o seu pedido de socorro foi porque a policia estava
atrás dele e os vizinhos prometiam matá-lo, pensamos que provavelmente ele dera
fim no dinheiro.
Bem eu sempre havia dito que a receberia e assim o fiz, ficou em
casa quinze dias, queria que ficasse mais, pois todos estavam procurando uma
casinha perto de mim para alugar, assim poderíamos ajudá-la e ela voltaria a
trabalhar, como fisioterapeuta era formada e também dera de ler tarot e isto
atraía muita gente.
Bem aos poucos deu um jeito de ir para a casa de outra irmã, para
ela eu era pobre e por isso tinha amizade com gente simples, na minha outra
irmã ficou dois dias e pronto conseguiu tirar minha irmã do sério, que
imediatamente a devolveu a mim.
Minha casa não queria, dizia que eu tomava muito conta dela, queria
mandar nela, tinha dez olhos em cima dela, e era verdade, tinha medo dela
aprontar, aos poucos foi ganhando minha confiança e assim lendo um tarot para
uma conhecida que morava no interior me disse que iria para o interior com ela
por quinze dias, que deixasse a cama e o guarda roupa arrumados para ela.
Nunca mais voltou, já havia combinado de morar lá, magoei-me, pois
mais uma vez ela mentira, por dois meses não desarrumei o quarto, esperei,
enfim caí em mim.
Outro dia voltou, dizendo que meu irmão tinha um quarto a mais
na casa dele, estranhei, telefonei e ele me disse: Não Má, só falei para ela
passar o final de semana. Conclusão ela veio, ele não passou o endereço e ela
acabou na minha porta.
Como da outra vez a recebi, mas com o pé atrás, ela não queria a
minha casa, queria se sentir livre então fui logo dizendo: Fique tranquila que em
poucos dias me mudo e em seguida alugo para você uma casa pequena mas que você
possa trabalhar, agora estava dando atendimento pela Net além das massagens e
tirava razoavelmente bem.
Foram sete dias terríveis, por tudo ela arrumava a mala e dizia ir
embora, eu não podia dar bronca em minha filha que ela dizia que ia embora, se
eu soltasse um palavrão um p que p ela ia embora, se eu e meu marido conversássemos
em tom mais alto ela ia embora, quando terminava de limpar a casa ela resolvia
dar coisas para a Ula comer jogando pelo chão da casa se eu falava alguma coisa
eu era brava e mandona e ela ia embora, se o queijo acabasse, a banana, ou não
tivesse azeite ela dizia ser doente e precisar de alimentos assim, e tinha que
ir comprar na hora, como eu não ia, ia ela.
Quando usava o banheiro entrava com
desinfetante porque dizia que o meu marido também usava o mesmo banheiro e
homem ela dizia faz aquelas coisas, tudo na cara dura.
Passava o dia deitada até a hora de eu terminar o serviço, pois se
dizia velha e por isto precisava descansar, e meu nervos na flor da pele, meu
marido fazendo exames devido ao mioma encontrado na ultra, a minha filhota
cedeu o quarto para ela de vez e se ajeitou na sala, com seu jeitinho humilde e
fala mansa ganhava espaço e a gente se encolhia.
Uma noite minha filha casada me ligou e disse: Mãe, a filha da p
daquela funcionária aprontou de novo, não aguento mais. Eu respondi, mas que f
d p de novo? P q p haja paciência.
Pronto a dona humildade começou a reclamar e aí eu não aguentei desencadeou em
mim uma coisa que há mais de vinte anos eu não tinha, uma senhora crise de ira,
nossa gente falei muito, ela fingiu estar tendo um treco, corri chamar a ambulância,
quando ouviu eu falar ao fone imediatamente ficou boazinha, se ajeitou na
cadeira e disse que bobagem já passou,
não tenho mais nada.
Voltou ao normal, disse que éramos irmãs e que sabia que eu estava
com muita coisa na cabeça, inclusive arrumando clientes para ela, só queria
saber se na nova casa que eu ia teria um
quarto só para ela, não eu respondi, não tem são dois quartos como aqui, e o
bairro é simples, mas você trabalha pela Net e eu já estou ajeitando casa pra
você.
Saí de manhã para resolver exames de meu marido, quando voltei,
ela de malas prontas me disse que tinha arrumado clientes em SP e voltaria no
domingo já no meu novo endereço, à meia noite quando tive tempo de abrir minha
caixa de e-mails, havia um e-mail dela dizendo voltei para o interior, não
havia cliente alguma, te amo muito e te perdoo pelo teu mau gênio, você é muito
mandona.
Desde então não tenho conseguido fazer poesia, parece que fiquei
oca por dentro, pedi a ela que por uns tempos não me telefone, não estou em
condições de ouvir mentiras, ela me desconjurou, diz que por ser mais velha eu
lhe faltei com o respeito, que eu me descontrolei devido a tanto problemas que
tenho, que ela se sentia muito mal com os problemas de saúde e financeiros da
casa, que ela precisava cuidar da vida dela, mais um monte de coisas assim e por final diz
que não mentiu nunca apenas ocultou a verdade.
Gente não sabe como estou me sentindo mal, sabe nunca pensei que
eu atingiria tal estado de ira, aquela noite foi demais, vê-la fingindo, depois
deitar ao chão e chamar não sei quem que diz ser a esquerda da religião hinduísta
e tentar praquejar, tentar porque eu não deixei, realmente o meu estado de ira
faria qualquer um ficar com medo, mas eu precisava pará-la, contê-la estava
tendo um chilique atrás do outro, como fizera na casa de minha outra irmã
daquela fez. Tornei-me uma pessoa tão pequena, tão irracional, falei verdades
que ninguém fala para ela, verdades que fazem que ninguém a queira em sua
casa, todos lhe dão tapinhas nas costas mas procuram se desvencilhar o mais
rápido possível, e ela sempre acaba onde não quer, na minha casa, eu não tenho
coragem de fechar a porta, a amo tanto é minha irmã, usa de falsa modéstia,
manipula as pessoas com a fala mansa, diz que ama todo mundo, mas não mexe uma
palha por ninguém se tiver que sair de sua comodidade, a menos que lhe
interesse.
Gente me perdoe precisei escrever, por para fora, senão não vou
conseguir mais escrever, não gosto de hipocrisia e aquela noite eu percebi o
quanto sou atrasada espiritualmente, o quanto ainda me arrasto no lodaçal de
meus defeitos, mas quem sabe depois deste desabafo e de orar por nós duas eu
consiga me sentir menos oca, menos perdida.
Luconi
10-09-2011