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domingo, 11 de junho de 2017

PEDAÇOS DE MIM






Olhava a noite, a brisa fria batia em seu rosto, mas ela estava encafifada com uma pergunta que alguém lhe fizera, alguém lhe pedira para falar da mulher Celeste, ela desconversou, arranjou uma desculpa e foi para casa.
Aquela pergunta a deixara com um ponto de interrogação e ali olhando a noite a sua mente tentou respondê-la.
No entanto não encontrava uma resposta precisa, falar o que da mulher Celeste, da mulher que era?

Não sabia o que falar?

Passou por sua mente a sua vida nos últimos anos, alguns realmente diziam que ela não vivia, que não tinha uma vida dela. Será que não?
Quando trabalhava era uma excelente funcionária, vestia a camisa da empresa, atendia os clientes com toda atenção, não procurava apenas o interesse da empresa, mas sim, procurava associar o bem estar dos clientes aos interesses da empresa, era boa nisso, nunca enganara ninguém.
Depois da aposentadoria, ficara em casa, mas da casa sempre cuidara, dos filhos, do marido, e depois que ele falecera, passou a dedicar-se à família.

Vieram os netos e ela ajudava no que podia, morava com a filha mais nova, ou a filha mais nova morava com ela e o seu filhinho.
Cuidava dele para ela trabalhar e estudar, ficava com ele quando ela saía a noite, era fácil ela já o deixava dormindo.

Isto ocupava todo seu tempo, mal tinha tempo para pequenos lazeres, a noite depois que o pequeno dormia, ela aproveitava para ler, para acessar a internet, às vezes conseguia fazer algum trabalho de crochê ou conectar-se com a sua fé. Já assumir compromissos fora do lar era difícil, os horários da filha eram incertos, até tentara frequentar sua fé, mas a filha não lembrava do dia combinado e raramente chegava no horário, então ela faltava e não era de seu feitio assumir compromisso e falhar, então desistira, teria que aguardar, aguardar o que não sabia.

Vida social não existia, devido a sua reclusão não tinha amigos, os que tinha eram distantes, sair de casa não mais gostava, antes saía com o marido, tudo fazia com  ele, a seu lado sempre estava, mas depois de sua partida, realmente perdera o gosto, nunca fora de sair muito, mas com ele até uma ida ao mercado era um passeio.

E agora essa pergunta? Como é a mulher Celeste? Ora bolas, não é. Não existe só a mulher, aliás ela pouco tem voz, existe sim a mãe, a avó, a dona de casa, a irmã, a tia,  a amiga, a mulher de fé, fé essa que nunca perdeu por pior que fossem os vendavais.

No passado, antes de conhecer o marido, já tinha a sua fé e a praticava, mas também, gostava de sair, de ouvir um samba, de estar com uma amiga para jogar conversa fora, mas sempre colocando a mãe em primeiro lugar, pois já tinha dois filhos.  E jamais os deixava quando estavam em casa, mas quando iam pra casa do pai, aproveitava para fazer as coisas que gostava.

Bem essa era ela, o que fora e o que é agora, se ver unicamente como mulher nunca acontecera. Não a pergunta  estava errada, a mulher Celeste era a soma de todas as Celestes que nela havia.

Sorriu, era feliz assim, consigo trazia em seu interior muita paz, certeza de estar tentando fazer o melhor para os que amava e para aqueles que seu caminho cruzasse, esta era  ela a Celeste, a soma de tudo, cada parte sua formando um único eu,
não sentia falta de nada, talvez de alguém que nesta Terra já não se encontrava.

Olhou a noite, deixou-se envolver pela sua energia, suspirou fundo sentindo que alguém com ela também suspirava, então sentiu-se completa.



Luconi
10-06-17




10 comentários:

  1. Que beleza,Luconi...

    E deu pra entender muiiiiiiito bem essa CELESTE que se transformou em muitas ,sempre tentando o melhor fazer por onde passasse e que ao final, via-se feliz, completa, TODA em cada pedacinho dela... Lindo isso,,,, bjs, ótima semana! chica

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  2. Bom dia querida Luconi!
    Parabéns pelo teu lindo texto que reflete a vida de tantas mulheres.
    Adorei que você veio até meu blog e saiba que o carinho que sinto por ti é recíproco.
    Volte quando quiser e puder sempre!
    Convido-te a conhecer meu novo blog sobre a cultura e vida dos ciganos:
    estacaocigana.blogspot.com.br
    Um grande abraço com muito calor e carinho.

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  3. Querida amiga Luconi
    Deixe-me apresentar-lhe os meus sentidos pêsames.
    A esta distância perdem um pouco o sentido, mas são de coração.
    Há outra amiga brasileira, que presentemente tem o blog em descanso, e que também perdeu o marido no mesmo ano, com pouco intervalo do meu.
    E tenho também duas amigas brasileiras, não blogueiras, mas com quem me correspondo quase diariamente, que também ficaram viúvas no mesmo ano, também com pequeno intervalo.
    O mundo é muito grande mas, quando vamos a ver... não é tão grande assim.
    Achei muito lindo e sentido o seu poema.
    Quando estamos tristes escrevemos coisas com mais profundidade...

    Gostei muito da história da Celeste.
    A verdade é que não é fácil definir uma mulher só como mulher, pois ela, salvo muito raras excepções, é tudo isso que era a Celeste - mulher (esposa) mãe, filha, trabalhadora, dona de casa... enfim, uma infinidade de atributos, todos reunidos numa só pessoa, difícil de descrever.
    As excepções são aquelas mulheres que se dedicam exclusivamente à sua carreira, deixando para segundo plano o marido, os filhos, a família, o lar...
    Felizmente são poucas, mas conheço algumas...

    Minha querida, desejo dias felizes e tranquilos.

    PS – Obrigada pela presença e palavras tão gentis na minha CASA

    Votos de uma semana muito feliz.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  4. Lindo texto!
    Acho que uma mulher celeste - ou Celeste - vive feliz sendo simples...

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  5. A energia em nos resiste com o nome de fé. Lindo

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  6. A energia em nos resiste com o nome de fé. Lindo

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  7. A Celeste, representa a vida de todas as mulheres
    na face da terra. Umas mais umas menos mas são
    todas celestes.
    Janicce.

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  8. Que bonito, Luconi!!! A Mulher celestes representa todas as mulheres reunidas, principalmente as mães. Lindo demais mesmo.

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  9. Eu conheço algumas Celeste(s), admiro e respeito profundamente seus momentos, nossos momentos. A vida tem seus ciclos, mudamos, hoje não gostamos ou não podemos fazer o que fazíamos, mas qual o problema de mudar se nos sentimos bem? Vejo filhos ou amigos indignados com certas mudanças na vidas das pessoas, e isso é que não gosto de ver, certa intromissão! Não estará essa Celeste bem? Não será esse o momento de sua guinada? Não estará ela nostálgica, um pouco entristecida? Deem tempo para elas, respeitam seus momentos!Suas mudanças!
    Gostei de seu texto porque tenho gente assim muito próxima de mim e vejo o sufoco que passam, elas querem um tempo para sentirem, pensarem a sós.
    Parabéns por esse texto, querida Luconi, é profundo, vi mágoa, insatisfação, mas um certo pedido de 'deixem-me' um pouco viver como quero.
    Beijo, querida.

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  10. Sempre tão bom ler os seus textos! Bjs e um bom fim de semana

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LUCONI